terça-feira, 15 de julho de 2008

कोर्देल डा विला, दे अंतोनियो leal



Cordel da Vila de Ponta Negra

onde se conta a incrível história da rainha Maria das Dores que não foi Augusta mas Barrado, não foi Bragança mas Lima, nem foi d Áustria nem de França, não foi Augusta mas Silva, nem foi Bragança mas Nascimento, a nossa Rainha Mãe...







A Vila apresenta esta noite meus senhores

A história da rainha Maria

Foi mulher de tantas Dores

Que viveu no Paraíso

Mas foi perdendo o Juízo

No meio do Escandaloso


O mar vai virar sertão

Foi tiro pra todo lado

Que os pássaros foram embora

E largaram de mão a história

O mar ficou horroroso

E o perfume mal cheiroso

Tirou os peixes daqui


O velho Piloto dos Lima

Que guardava na memória

Tantas lendas, e esta história

Foi-se embora pro outro lado

Nós somos os apresentadores

Herdeiros de tudo isso

Nesta brincadeira popular


É que nós vamos contar

Maria casou três vezes

E matou os três maridos

Nenhum de morte matada

Os três de morte morrida

Nós vamos aqui contar

É cheio de encantamento


Ela era bem pequena

E inventou um boneco

Um passarão avoante

Um jaraguá, meu irmão

Era tão interessante

Que a garotada esperava

E à noite ele passava




Sobre as casinhas da Vila.

- Olha o boneco passarão

A garotada dizia

E a menina do alto respondia

Eu sou passarinho, passarinho

E vou procurar é fruta

Pra encher minha barriga


Tudo era aberto e franco

Na Vila de Ponta Negra

Quero plantar vou e planto

Que terra não falta, não

Quer construir uma casa?

Faz bem aqui do meu lado

Que não precisa dinheiro.

Não mexa no meu coqueiro!


Vou procurar é fruta

Pra encher minha barriga

A menina repetia

Todo dia, na hora certa

Manga, goiaba, araçá

Achava em qualquer lugar


A menina ficou moça

E foi virando rainha

As vezes dançava sozinha

Em frente à casa de taipa

Chegou um rapaz de fora

Com ele dois militares

E um tal americano


Tu és linda, caso contigo

Ah, eu tive um sonho

Esta terra...

É campo de passarinhos

Disse Maria, e nunca estamos sozinhos

No meio da passarada


Os dois estavam casados

E ela vinha atrás da fruta

A bordo do passarinho

E avistou um caçador

Que lá caçava sozinho

Era um rapaz dos Barrado

Ela quis fazer amor





Era amor pra todo lado

A rainha não era de Bragança

E fez amor com os do Congo

Não era rainha de França

E foi mulher de um dos Lima

Na Vila dePonta Negra

Maria pariu cem filhos!


Maria brincava Pastoril

Dançava coco de roda

Isto nunca se acaba

Na vida de uma nação

É o que a rainha dizia

No meio da animação


O homem, seu primeiro amor

Virou o governador

Do nosso estado do norte

Um dia fez confissão

Eu tive um sonho

Que esta terra, este ano

Vai virar um solo americano


Nem se pensava na guerra

O governador deu de presente

Pra agradar aquela gente

Lancem daqui seus foguetes

Esta terra é plataforma

De aviões e lançamentos

Que hão de chegar à lua


Rainha Maria das Dores

Um dia foi caçar frutas

E caiu na armadilha

Presa no arame farpado

Ela e o seu jaraguá

Me dá a foice afiada

Que corto esse arame já.


Na Barreira do Inferno

A dança do Jaraguá

Furioso. A rainha ficou louca

Um gato furrunfunfato

Um gato triunfunfato

Um gato fierfunfato

Acabou o Paraíso






Sete dias se passaram

Maria perdeu o juízo

E lá dentro do palácio

Quebrou todos os espelhos

Acabou-se o paraíso

Que morra o meu amor

Morreu o governador!


Depois o mar encrespou

E Maria entrou no mar

Sete dias, sete noites

E o passarão a voar,

Sobre as ondas, sobre as ondas

Maria ficou encantada

E subia nas jangadas


Foi tudo que é pescador

Desde os Congo aos Rodrigues

Foi tudo fazendo amor

Com a mãe das águas do mar

E foram sendo criados

Pelos barraqueiros da praia

Mas ela casou novamente


Era um homem que possuía

Um belo carro e dinheiro

Quero casar-me contigo

Eu tive um sonho, esta praia...

Maria lembrou-se do sonho

Do antigo governador

Mandou que calasse a boca

Esse seu novo senhor


Mas logo a realidade

Pegou Maria de espanto

Estava no mar e não viu

Derrubaram as barracas

Alimento de tanta gente

Deixando as gentes ao léu

Andando na praia a esmo









Não quer comprar um sorvete

Caipirinha, ou cerveja?

Compre um CD meu irmão

Quer queijo, quer camarão

Ou quer ostra com limão

E se quiser outra coisa

Eu também posso arranjá




Viram a rainha louca

Montada num Jaraguá

Subiu e sumiu no céu

Viu sua gente miúda

Entre a terra que era grande

E o mar que era sem dono

Seu povo pedia ajuda.


Uma noite ela cansou

Ficou tão longe da Vila

Gente chegou com saudade

Chamando ela de mãe

E chegou um italiano

E se encantou pela estranha.


E disse: tive um sonho

To cheio de encantamento

Maria não disse nada

Das dores perdeu a língua

Já era do mal alvitre

Alguma coisa de errado

Viria naquela história.


O homem pegou mulheres

Beijou-as, deu-lhes dinheiro,

Também pegou as mocinhas

Pouco mais do que crianças

Ensinou-as a vender

O sexo, a qualquer preço

Maria não disse nada.


Estrangeiro tava morto

Comido pelos siris

Foi-se o terceiro homem

Se ela quis ou se não quis

Marido, acontecimento

Será coisa de momento?

Maria não quis pensar.



Voltou pra casa de taipa

Nunca mais disse palavra

Já se passaram cem anos.

Nas cordas estão pendurados

Os seus jaraguás de reis

Este cordel encantado

Que eu fiz para vocês.


Nossa arte, encantamento

São palavras da rainha

Dou vivas aos pastoris

Dou vivas às pastorinhas

Boa noite, meus senhores

Os congos e as lapinhas

Boa noite meus senhores.



2 comentários:

Gabriela Barbalho disse...

olha,
nem tudo que lí [do pouco que lí] em minha vida, eu lembrarei ou abarei por citar um dia em uma mesa de boemía.
mas "talvez a vida tenha pazer de mim" e "eu morro neste piano de saudade de você" certamente um dia farão parte do meu vocabulário.

delíciada!

Gabriela Barbalho disse...

acabarei*