





MANIFESTO AO CAJU
Por motivos Ideológicos destrono o caju e sua representação no campo das artes, e o como.
Ele é o signo da terra (Ponta Negra, Natal, RN, Brasil). Sua representação nas galerias e salões, sua super-exploração visual em feiras de artesanato como significante das pessoas (sociedade, incluindo artistas, mídia, publico etc.), é o clichê-pseudo-fruto que não se pode engolir. Fruta de plástico da linguagem, natureza morta sem estudo da arte: mesmice.
Penso a resignificação do caju em mim.
A descompressão do povo.
E a descompressão da terra.
Ao invés de quadros de sucessivos cajus vermelhos e amarelos nos lugares, os lugares enxertados nos cajus. Ao invés desse signo frágil adornando as coisas, a força do mundo penetrando-o.
Leia-se com voz de criança, ensinando:
O caju que caiu no chão ainda é doce!
Leia-se com voz de velho, ensinando:
O caju não é um fim, mas um estágio. Ele apodrece pra nutrir a semente.
Leia-se com voz de vento:
Está sujeito ao tempo: os sábios tupis já sabiam que ele, acaiu, contava o ano: acayu.
Mas a Guerra dos Bárbaros não deixou uma viv’alma pra trazer de boca em boca essa história aos beatos de falsos mártires.
Leia-se com voz de pescador bêbado da vila, sem terra, sem peixe, sem mais:
Eapoi, um cajuzim pá tirá gosto! [da vida, não ria.]
Um símbolo caju como meio para reconhecer e enfrentar as catástrofes sociais das gentes. A teia de linhas, anzóis e cajus da tragédia anunciada. A mundiça.
O maior cajueiro do mundo é de uma insignificância tão retumbante quanto a maior pereira do mundo, a maior macieira do mundo, a maior mangueira do mundo. Você já se perguntou onde estão?
Divago: sou um Quixote e esse cajueiro é o meu gigante. Sou um Ulisses e ele é o Polifemo que não me deixa voltar ao meu lugar – meu brinquedo hoje é uma lança para furar seu olho.
Ele se tornou uma bandeira. Um símbolo para a braçadeira de um defunto integralista naïve, pra lapela de um grileiro político.
Afinal, meu irmão, quem são teus heróis?
*
A ameaça, armadilha, que me espreita na esquina:
Ei, você diz tudo isso, mas o caju ainda está aí!
Dê-se um tempo, e leia-se com a minha voz:
Morto. Eu tive que matá-lo!
Leia-se com voz de preto-velho quilombola, dum Xangô esquecido de Ponta Negra:
Misifí bota caju cu otim na festa, ma dexá co’ tempo cômi!
Leia-se com voz de caboclo tupi – embargado no choro, na Jurema:
I jucá caju, I jucá caju, JUCÁ CAJU!
[e continua assim, ao fundo, girando e repetindo baixinho]
Agora, leia com tua voz os cajus que matei.
"A vanguarda surge mediante a cicatrizes operadas nos signos da linguagem; a leitura da vanguarda deve surgir mediante cicatrizes produzidas nos signos da critica"
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