encantos, entre luz e sombras.
aqui deixo as coisas que catei... os fragmentos de mim que nao quero distantes. minha obra obra dos meus, minhas obras para os outros, quero a eternidade... "NADA" e meu. QUERO SER DEUS!
domingo, 18 de março de 2012
पेकुएना क्रोनिचा दोस pedaçओस फ्लुतुंतेस दे मीम, फ़्रगुइमेन्तदोस पेलो cotidiano
interpretá-la com uma sobriedade artificial seria tirar-lhe a alma"
josé américo de almeida.
meus fantasmas... vou escrever a crônica da miséria: parece que no interior, na margem posso achar o interior de mim, posso vislumbrar o que falta, o que sobra é claro como o pingodameiodia, quero re-significar a capital daquilo que eu sou, as vezes negar faz sentido, mas só as vezes, o parto é agonizante, os dois jovens beiram a morte, agonizavam no asfalto quente, eu banquei o herói (Jesus ou Deus) miserável. Via sonho libertei os presos de cabelo azul, na fuga segui o rastro da calça arriada e da calcinha fio dental do meu sonho.
talvez a crônica dê certo...
nao estou nem aqui
(dissirei o que já disse!
O que é isso?
Digaria que não é mais...
Dissizariei o que vou dissizar!*)
Passara o tempo, e eu me ocupei com os pássaros, do vocabulário de caça do meu pai, com os passarinhos da minha infância também*, a brisa que soprou naquele dia no sertão junto com as jovens almas me levou pra longe, muito longe, estou no Rio de Janeiro, é preciso continuar a crônica, tenho a impressão que estou mais perto de saber que lugar ocupo no espaço.
Outros pequenos pedaços se encontravam em um bloco de notas, que junto com o caderno de desenho e meu estojo foram furtados por uns jovens do bichinho, lá em Tiradentes, justo na minha terra natal...
O mais incrível foi ver a bolsa depois de uns meses quando retornei a Minas, durante as festividades do dia dos pretos velhos, la estávamos e ouvimos um som bem tradicional e simples, instrumental, demos por conta: eram três homens que vinham ao longe subindo a rua que fazia uma bela encruzilhada com a rua em que estávamos, eles vinham subindo e nos ficamos todos prostrados em admiração. Menos eu, estava inquieto, admirando a musica mas colhendo pequenos objetos do chão.
Quando já estavam perto, passei a observá-los com mais atenção: feições simples meia idade, um vesgo, dois de chapéu, cigarro de palha na boca, viola, pandeiro, e uma espécie de “violinha”. Apesar do frio estavam todos de sandálias de dedo, pude ver no mais velho uma alça de bolsa do tipo caçador, bem simples, no sertão chamam de bizaco, me curvei para ver melhor e fiquei estuperfado em perceber que se tratava de minha bolsa perdida, e que eu reencontrara a possibilidade de reaver meus cadernos, era um dia auspicioso, eu sabia disso...
Assim que terminou aquela cançao me coloquei no espaço dos músicos no meio daquela encruzilhada perguntei de forma humilde: se sabia do paradeiro dos cadernos, ele apontou para um dos amigos, um pouco constrangido porem muito cordial, dizendo que tinha achado a bolsa vazia em um caminho na beira da estrada, nesse momento Ines sabia do acontecido e disse: uma teia!
O velho se apresentou como Curió antigo morador de Tiradentes conhecia meus pais e guardava memória deles a mais de vinte anos atrás, ele mostrou a bolsa e disse que tinha muita feição por ela, pois ele lia a data: 2007, ano da morte de meu pai ele disse. Ines mais uma vez observou assustada, na bolsa estava escrito: TEIA ( pois era fruto de um encontro que eu tinha ido em BH).
Deixei a bolsa com ele, tocaram mais uma musica e quando nos despedimos ele me convidou para tomar café em sua casa no dia seguinte, recusei pois voltaria ao Rio naquela manha.
Quando cheguei em casa, desenhei o trio, no caderno que minha mãe me deu ao saber que eu estava sem... ela também tinha dado o outro(furtado), eu sentia saudade da frase do antigo caderno escrita por ela: arte é para sentir.
Dói no coração um caderno perdido, quando é especial, passa por experiências, viagens, pessoas, antes desse também tive um outro esquecido no banco do ônibus, capa de couro vermelha, não me lembro se chorei...
Provavelmente...
Havia sido roubado de minha mãe, estava guardado a muitos anos, eu o amava, como narciso amava seu reflexo no espelho, ou mais.
Chego a lembrar dos amores que se foram...
Vem a mim uma memória da perda, dessa dissolução desses castelos, é mai fácil gravar em um caderno do que nas pessoas.
No outro agente não vê o que desenha pinta escreve e grava com nossas ações, não é tão aparente.
Mas quando vez por outra, me refazendo arranco paginas, muitos desenhos da mesma mulher. Arranquei varias vezes, queria ser um caderno, pra arrancar de mim, esboços de amores e planos quem não deram certo.
A Cidade
Juntando a questão da morte iminente na cidade, pesadelos, sonhos de amor doentios e outras questões meio pra baixo.
Amigo aqui, so a sola do meu sapato..
Ia eu andando cima a baixo ouvindo musica, como nunca, isso somado ao óculos de lentes alaranjadas bastante fumaça, produzia um efeito retardante no tempo, era possível criar eu o meu próprio dia, como se vivendo em outro andar...
Mas era preciso estar sempre em movimento, a realidade grita, sei que a realidade individual atua e pode transformar o mundo, mas a mudança do olhar e do tempo espaço que poderia estar procurando, independe e provavelmente e pouquíssimo ativa; como uma relação simples, de observação, superficial.
Se minha cabeça não vai bem, sinto fortes dores musculares, a tenção também costuma desencadear uma serie de sintomas na pele e no sistema digestivo.
Sou um estrangeiro em minha própria terra! Eu também...
Não há conforto, em ninguém.
Sonhei uma vez quando dormi no salão onde ficam os atabaques: estava voltando da aula, estava sosinho, a rua da alfândega estava deserta, eu tinha a sensação de estar carregando algo valioso, sob as marquises duas pessoas sentadas, uma delas eu vi depois, porque estava deitada, se ergueu dizendo:Morri!!, acompanhando gemidos e choros, estava cheia de curativos pelo corpo, o outro parecia estar com a mao estendida como quem pede esmola e chorando...
Eu andava mas meu andar não movia o mundo, nem o mundo se movia nem eu saia do lugar, continuava andando e continuava de frente para aquelas duas pessoas, decidi em sonho pular e me fingir de louco, por medo.
Na cidade grande, a morte e a miséria estao na espreita, como nunca. Se no campo (lembro agora de um agricultor mais velhos falando da vida no campo, que é como no campo de futebol, a diferença é que a bola bate em você e não o contrario) a morte tem um sentido natural de renovação, na cidade a morte esta mais perto, bem como sua propaganda, deixando todos flutuando. O que quero dizer é que a morte esta mais próxima da ação do pensamento.
O desespero faz convite a morte, a embreaguez é um tipo de morte, o ultimo gole.
O vazio conforta o homem.
O medo da morte iminente me atinge. La estava o Frances no fim de seu passeio de bonde, sobre os arcos, o triunfo da morte, ele só estava pousando para foto quando foi surpreendidos por uma pancada, ainda ficou pendurado, mas despencou do alto. A imagem mais chocante pra mim, não seria a da queda o som, e a poça de sangue, mas a imagem dos meninos urubus, que como na guerra, se aproximaram e colheram os espólios do inimigo. A morte?
Uma criança se aproxima em uma pequena bicicleta, vem em minha direção, um menino negro, no olho esquerdo um curativo, como um tapa-olho, no olho direito a olheira de um velho que já viu o pior.
Parou na minha frente e gritou: Quer pó?
Nunca mais voltei La...
Laysa no sertão da Paraíba na sabedoria dos seus 7 anos disse: “nunca diga que a mãe natureza não faz nada pra você, nunca diga isso, porque ela esta cuidando de outro lugar, outro planeta, depois ela volta pra esse e cuida, nunca diga que a mãe natureza não faz nada por você!”
-ninhos e cubículos
No Apartamento que divido com meus colegas, me sinto em casa, não por eles isso independe, mas por ficar no resquiço de senzala do apartamento, em todos os mais antigos de STA tem a dependência da empregada, sem janela, que mal cabe coisas...
Lugares assim causam grande conforto, são uterinos pra mim.
Sempre tive essa simpatia por pequenos ninhos. E esses cubículos refletem como me sinto, ou seja, seja o quanto for que esteja bagunçado, me causa um prazer que vem da honestidade, pois quando ruim, estou pior, esta ele.
Meus amigos nesse caso: ratos e baratas, sempre me acompanharam, dês da infância.
Sem falar da chuva, quando chove sou tomado pela mesma sensação belíssima, de honestidade e harmonia com o mundo, geralmente chove quando estou triste, quando não a chuva me leva para um estado de melancolia, aprendi muito com ela, com a chuva: ela ensina o desapego, ela é quase uma virada de ano.
Não so as pessoas, aprendi que os espaços podem ser opressores, costumam ser desenhados assim, mas não havia no mundo lugar mais confortável que o útero, depois debaixo da mesa, dentro do armário, no buraco enorme feito para a construção de uma fossa, afinal... onde estão nossas cavernas sagradas?
Já não é aceitável que um adulto se enfiee entro de um armário pra procurar o que não sabe o que, ainda assim vez por outra procuro esses espaços, uma vagina pode ser essa gruta sagrada. Um caleidoscópio também.
Isso me leva a um lugar bem especial, nada distante dos cadernos, dos sonhos e da minha infância.
Ate que ponto o mundo externo é um reflexo do mundo interior?
em construçao....
-sangue árabe e a teia da aranha
-o ultimo primeiro grande livro...
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
MANIFESTO AO CAJU






MANIFESTO AO CAJU
Por motivos Ideológicos destrono o caju e sua representação no campo das artes, e o como.
Ele é o signo da terra (Ponta Negra, Natal, RN, Brasil). Sua representação nas galerias e salões, sua super-exploração visual em feiras de artesanato como significante das pessoas (sociedade, incluindo artistas, mídia, publico etc.), é o clichê-pseudo-fruto que não se pode engolir. Fruta de plástico da linguagem, natureza morta sem estudo da arte: mesmice.
Penso a resignificação do caju em mim.
A descompressão do povo.
E a descompressão da terra.
Ao invés de quadros de sucessivos cajus vermelhos e amarelos nos lugares, os lugares enxertados nos cajus. Ao invés desse signo frágil adornando as coisas, a força do mundo penetrando-o.
Leia-se com voz de criança, ensinando:
O caju que caiu no chão ainda é doce!
Leia-se com voz de velho, ensinando:
O caju não é um fim, mas um estágio. Ele apodrece pra nutrir a semente.
Leia-se com voz de vento:
Está sujeito ao tempo: os sábios tupis já sabiam que ele, acaiu, contava o ano: acayu.
Mas a Guerra dos Bárbaros não deixou uma viv’alma pra trazer de boca em boca essa história aos beatos de falsos mártires.
Leia-se com voz de pescador bêbado da vila, sem terra, sem peixe, sem mais:
Eapoi, um cajuzim pá tirá gosto! [da vida, não ria.]
Um símbolo caju como meio para reconhecer e enfrentar as catástrofes sociais das gentes. A teia de linhas, anzóis e cajus da tragédia anunciada. A mundiça.
O maior cajueiro do mundo é de uma insignificância tão retumbante quanto a maior pereira do mundo, a maior macieira do mundo, a maior mangueira do mundo. Você já se perguntou onde estão?
Divago: sou um Quixote e esse cajueiro é o meu gigante. Sou um Ulisses e ele é o Polifemo que não me deixa voltar ao meu lugar – meu brinquedo hoje é uma lança para furar seu olho.
Ele se tornou uma bandeira. Um símbolo para a braçadeira de um defunto integralista naïve, pra lapela de um grileiro político.
Afinal, meu irmão, quem são teus heróis?
*
A ameaça, armadilha, que me espreita na esquina:
Ei, você diz tudo isso, mas o caju ainda está aí!
Dê-se um tempo, e leia-se com a minha voz:
Morto. Eu tive que matá-lo!
Leia-se com voz de preto-velho quilombola, dum Xangô esquecido de Ponta Negra:
Misifí bota caju cu otim na festa, ma dexá co’ tempo cômi!
Leia-se com voz de caboclo tupi – embargado no choro, na Jurema:
I jucá caju, I jucá caju, JUCÁ CAJU!
[e continua assim, ao fundo, girando e repetindo baixinho]
Agora, leia com tua voz os cajus que matei.
"A vanguarda surge mediante a cicatrizes operadas nos signos da linguagem; a leitura da vanguarda deve surgir mediante cicatrizes produzidas nos signos da critica"
quinta-feira, 29 de abril de 2010
से मु बोई मोर्रेर मोर्रो एउ
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Cantos da Praia
A SEDA
A seda que lhe vestiu
Naquele dia
Foi a minha fantasia
Você me amaria?
Sim, você gostaria!
De mim?
Não!
Da minha fantasia!
Minha querida
Vida – mamãe – 27.11.1995
Gil acordava de madrugadinha, pela alba, e ficava olhando o mar e seus movimentos, os pescadores, as velas dos barcos, as ondas e o vento. Mal dava pra ver, àquela hora. Gil se concentrava, em recolhimento meditativo e ditava seus versos de uma vez.
- Escreve aí, papai, a minha poesia.
A primeira poesia que ele me ditou foi:
Os anjos caminham contra o vento
As luzes se acendem
Os coqueiros se abrem
A maré enche e as pedras aumentam
Quando os diabos vem
O mundo fecha todo
E os vendedores tiram as barracas do lugar.
Gil tinha quatro anos. Eu me surpreendi muito com sua atitude temporã. Ele exigia que se lesse depois e que se mantivesse cada uma das suas palavras, tal como as havia suavemente declamado.
Embora eu seja um educador que acredite fundamentalmente na linguagem poética e às vezes goste de dizer poesia em torno da mesa da sala, em família, mesmo assim não vejo razão para tamanho desejo infante.
Agora Gil já sabe ler e escrever. Mas quase não faz poesia. Deve estar guardando suas armas secretas.
Natal, 25 de maio de 1996
Do papai pro Gil
Nancy e Dirceu
Eu quero que vocês leiam esta poesia
Os anjos caminham contra o vento
O barco bóia
Numa linda paisagem
Na água doce
O navio pode ter cinco portas
Por causa dos chineses
Será que o kimono
Pode ser verde?
Eu acho que o leite pode ser verde
Se o kimono pode
O mundo é tão lindo
Assim acaba a poesia
* 15/03/1993 *
Tio Irocy
O vento é bonito
Como desenho de criança
Igual a um ventilador de uma borboleta com asa vermelha
Mesmo assim
Sem proteger as coisas
Não verá mais povos
Para ganhar dinheiro e sobreviver
* 02/06/1993 *
Muitas pessoas sabem
Que deus é nosso pai
E lá no alto
Tem muitos paises
De muitos anjinhos
E muitas pessoas também sabem
Que lá em cima
É muito Lindo!
Um dia sim
Outro dia não
Uma casa grande
Um casarão
O dia de páscoa
É um grande pensamento
Do meu pássaro
Eu me alegro com a alegria em si
-Está gostando?
Muito?
Ih, pai, não era pra escrever isto...
O dia é tão tarde
E a noite é tão fria
E a tarde é tão quente
Eu abro os meus braços
Pro dia e pra noite
O dia é a noite
E a noite é o dia
No meu coração
Ver uma coisa bem distante
Da noite e do dia
Eu durmo com ele
Com todo o meu coração
Um poeta não abre os seus braços
Pra mentira
Só pra verdade
Saudade de dia
Saudade de noite
Eu morro neste piano
De saudade de você
* 07/11/1993 *
Os pássaros vão passear na lua
Depois disso eles dão coisas para as crianças
Saberes & Sabedorias
POESIA 21
Alegrecer a lágrima sua
De choro e vontade
Os anjos
Há quarenta anos
Não são de nada
Quando é de noite
Os pássaros fecham as asas
E vão para o seu ninho novo
Os coqueiros fecham as asas
As casas ficam com as luzes apagadas
E as folhas caem das arvores
Com muita água de chuva
Eu escrevo essa poesia
Por causa de um poeta
Meu amigo
Que morreu
(depois de saber da morte de
mário Quintana pela tv)
* 1994 *
Os anjos caminharam
Muito bonitos
Em frente ao salão
Até que surgiu
Uma parte bonita do mundo
Como uma pérola
Logo no dia
Uma poesia
Muito bonita
Se surgiu
Depois veio
Os anjos caminham contra o vento
De um longo dia
Cavaleiros preparados
-Os cavaleiros não perderam a guerra!
Nada é mais lindo do que a poesia
A menina quer dançar
Não sabe sambar
Mas sabe andar
E esta menina
É muito bonita
Pois essa menina
É mais bonita
Vai e não volta mais
Dissirei o que já disse
O que é isso?
Digaria-se que não é mais
Dissizarei o que vou dissizar
O campo
Tem dois dias
Da morte
&
Noite
Os galos morrem
De uma só tocada
E não tem mais
O que beber
Antônio Gil
Direto do campo
Dias sim dia não
Para a mamãe
Mãe
Eu gosto de você
Uma poesia do coração para você
Bonita pra diabo
As nuvens se abrem
As pessoas pulam
A gente pega coco nos coqueiros
Os barcos vão pegar peixe
Quando se acabam essas coisas
As pessoas vão almoçar
Eu sabia da lua
E não sei do luar
A pedra do dia
A pedra do ar
Essa poesia era para me lembrar
A noite do dia
* 1994 *
O espelho tem a cor
De um lazer
De flor
Como as pessoas
O POETA DE CORAÇÃO
Sera que quem não e poeta não tem coração?
Olha o menino que quer jogar futebol
Ele não sabe chutar
Mas sabe golear
Um amigo se perde
A vida se perde
Um amigo é a luz
A luz é um amigo
Eu tenho prazer de ter a vida
Da vida eu tenho prazer
Talvez a vida tenha prazer de mim
* 8/7/1994 *
O céu e azul
A cor do mar
O vento passa
profunda água
A água é o sol
Vou colorir a praça
Com uma boa vontade...!...!...!
* 1994 *
terça-feira, 15 de julho de 2008

OS DEZ MANDAMENTOS
1 – Estar sempre aprendendo com o outro, a cultura dele só faz irrigar a vida dele e o meu saber e a minha vida.
2 – O outro é o Lúmpen, a criança Lúmpen; o soldado Lúmpen; o partido Lúmpen; o Espaço Lúmpen; a História Lúmpen;
3 – A história Lúmpen é a história dos homens vivos, que organizam sua luta, a sua máquina de guerra;
4 – Temos que afirmar a linguagem Lúmpen, a única verdadeira, a única que esse homem efetivamente fala. O primeiro princípio da sua servidão, ele sempre soube, é falar a língua padrão;
5 – Deixando-o falar afirmamos a sua textualidade e fazemos brilhar o seu contexto;
6 – A história dos Lúmpen nunca será a história dos vencidos; História dos Vencidos é toda a história do passado. A história viva é um fluxo permanente, tal como a palavra.
7 – O princípio básico do Lúmpen é a sua autonomia. Para isso terá que criar formas solidárias no campo econômico, terá que desenvolver a sua cultura popular, o seu lugar político, a sua linguagem, o seu meio comunicativo.
8 – À proporção que a sociedade capitalista perpetrar seus crimes, eles avançarão na criação do seu mundo. Não aceitarão jamais a pecha da miséria anunciada.
9 – A única gramática que interessa é a gramática do dialeto. Nada de bom uso, de padrão.
10 – Criaremos juntos o Lugar para a maioria dos habitantes do 4º. Mundo.
कोर्देल डा विला, दे अंतोनियो leal
Cordel da Vila de Ponta Negra
onde se conta a incrível história da rainha Maria das Dores que não foi Augusta mas Barrado, não foi Bragança mas Lima, nem foi d Áustria nem de França, não foi Augusta mas Silva, nem foi Bragança mas Nascimento, a nossa Rainha Mãe...
A Vila apresenta esta noite meus senhores
A história da rainha Maria
Foi mulher de tantas Dores
Que viveu no Paraíso
Mas foi perdendo o Juízo
No meio do Escandaloso
O mar vai virar sertão
Foi tiro pra todo lado
Que os pássaros foram embora
E largaram de mão a história
O mar ficou horroroso
E o perfume mal cheiroso
Tirou os peixes daqui
O velho Piloto dos Lima
Que guardava na memória
Tantas lendas, e esta história
Foi-se embora pro outro lado
Nós somos os apresentadores
Herdeiros de tudo isso
Nesta brincadeira popular
É que nós vamos contar
Maria casou três vezes
E matou os três maridos
Nenhum de morte matada
Os três de morte morrida
Nós vamos aqui contar
É cheio de encantamento
Ela era bem pequena
E inventou um boneco
Um passarão avoante
Um jaraguá, meu irmão
Era tão interessante
Que a garotada esperava
E à noite ele passava
Sobre as casinhas da Vila.
- Olha o boneco passarão
A garotada dizia
E a menina do alto respondia
Eu sou passarinho, passarinho
E vou procurar é fruta
Pra encher minha barriga
Tudo era aberto e franco
Na Vila de Ponta Negra
Quero plantar vou e planto
Que terra não falta, não
Quer construir uma casa?
Faz bem aqui do meu lado
Que não precisa dinheiro.
Não mexa no meu coqueiro!
Vou procurar é fruta
Pra encher minha barriga
A menina repetia
Todo dia, na hora certa
Manga, goiaba, araçá
Achava em qualquer lugar
A menina ficou moça
E foi virando rainha
As vezes dançava sozinha
Em frente à casa de taipa
Chegou um rapaz de fora
Com ele dois militares
E um tal americano
Tu és linda, caso contigo
Ah, eu tive um sonho
Esta terra...
É campo de passarinhos
Disse Maria, e nunca estamos sozinhos
No meio da passarada
Os dois estavam casados
E ela vinha atrás da fruta
A bordo do passarinho
E avistou um caçador
Que lá caçava sozinho
Era um rapaz dos Barrado
Ela quis fazer amor
Era amor pra todo lado
A rainha não era de Bragança
E fez amor com os do Congo
Não era rainha de França
E foi mulher de um dos Lima
Na Vila dePonta Negra
Maria pariu cem filhos!
Maria brincava Pastoril
Dançava coco de roda
Isto nunca se acaba
Na vida de uma nação
É o que a rainha dizia
No meio da animação
O homem, seu primeiro amor
Virou o governador
Do nosso estado do norte
Um dia fez confissão
Eu tive um sonho
Que esta terra, este ano
Vai virar um solo americano
Nem se pensava na guerra
O governador deu de presente
Pra agradar aquela gente
Lancem daqui seus foguetes
Esta terra é plataforma
De aviões e lançamentos
Que hão de chegar à lua
Rainha Maria das Dores
Um dia foi caçar frutas
E caiu na armadilha
Presa no arame farpado
Ela e o seu jaraguá
Me dá a foice afiada
Que corto esse arame já.
Na Barreira do Inferno
A dança do Jaraguá
Furioso. A rainha ficou louca
Um gato furrunfunfato
Um gato triunfunfato
Um gato fierfunfato
Acabou o Paraíso
Sete dias se passaram
Maria perdeu o juízo
E lá dentro do palácio
Quebrou todos os espelhos
Acabou-se o paraíso
Que morra o meu amor
Morreu o governador!
Depois o mar encrespou
E Maria entrou no mar
Sete dias, sete noites
E o passarão a voar,
Sobre as ondas, sobre as ondas
Maria ficou encantada
E subia nas jangadas
Foi tudo que é pescador
Desde os Congo aos Rodrigues
Foi tudo fazendo amor
Com a mãe das águas do mar
E foram sendo criados
Pelos barraqueiros da praia
Mas ela casou novamente
Era um homem que possuía
Um belo carro e dinheiro
Quero casar-me contigo
Eu tive um sonho, esta praia...
Maria lembrou-se do sonho
Do antigo governador
Mandou que calasse a boca
Esse seu novo senhor
Mas logo a realidade
Pegou Maria de espanto
Estava no mar e não viu
Derrubaram as barracas
Alimento de tanta gente
Deixando as gentes ao léu
Andando na praia a esmo
Não quer comprar um sorvete
Caipirinha, ou cerveja?
Compre um CD meu irmão
Quer queijo, quer camarão
Ou quer ostra com limão
E se quiser outra coisa
Eu também posso arranjá
Viram a rainha louca
Montada num Jaraguá
Subiu e sumiu no céu
Viu sua gente miúda
Entre a terra que era grande
E o mar que era sem dono
Seu povo pedia ajuda.
Uma noite ela cansou
Ficou tão longe da Vila
Gente chegou com saudade
Chamando ela de mãe
E chegou um italiano
E se encantou pela estranha.
E disse: tive um sonho
To cheio de encantamento
Maria não disse nada
Das dores perdeu a língua
Já era do mal alvitre
Alguma coisa de errado
Viria naquela história.
O homem pegou mulheres
Beijou-as, deu-lhes dinheiro,
Também pegou as mocinhas
Pouco mais do que crianças
Ensinou-as a vender
O sexo, a qualquer preço
Maria não disse nada.
Estrangeiro tava morto
Comido pelos siris
Foi-se o terceiro homem
Se ela quis ou se não quis
Marido, acontecimento
Será coisa de momento?
Maria não quis pensar.
Voltou pra casa de taipa
Nunca mais disse palavra
Já se passaram cem anos.
Nas cordas estão pendurados
Os seus jaraguás de reis
Este cordel encantado
Que eu fiz para vocês.
Nossa arte, encantamento
São palavras da rainha
Dou vivas aos pastoris
Dou vivas às pastorinhas
Boa noite, meus senhores
Os congos e as lapinhas
Boa noite meus senhores.